sexta-feira, 11 de novembro de 2005

That's amore ❤️

Sempre achei que o amor havia de me bater à porta um dia. Sem stress. Tinha perfeita noção de que os rapazes da minha idade não iam querer nada comigo.

Ia ter que esperar pela altura em que já seria madura o suficiente para ter uma relação com alguém mais velho, mais maduro, que olhasse para lá do meu braço e visse a pessoa que eu verdadeiramente era.

Tenho que admitir: não era fácil ver as minhas amigas todas comprometidas no dia dos namorados enquanto eu nem bilhetes a brincar recebia. Todas já tinham dado o primeiro beijo e eu nada. Comecei a dada altura a pensar que ia dar o meu primeiro beijo tão tarde que nunca ia saber fazê-lo. Talvez um dia encontrasse alguém com uma deficiência física e podia ser que se desse o clique entre nós, quem sabe.

Mas a certa altura, uma série de pensamentos começou a assustar-me.

Se eu um dia tiver um namorado vou ter que esconder muito bem o meu braço.

Talvez se eu for morar para Inglaterra, lá está sempre frio, posso usar sempre manga comprida.

(sim, até ter uns bons 16 anos achei que se eu usasse manga comprida ninguém ia reparar em mim - o que explica festas de verão da escola comigo a suar em bica mas a jurar a pés juntos que estava a morrer de frio).

Se eu um dia tiver um namorado como é que faço para irmos jantar fora? Eu preciso de partir a comida antes de começar a comer. Ele vai reparar.

Ainda não existiam restaurantes de sushi cá em Portugal. Quando apareceram eu já tinha tido namorado. Bolas.

E se formos morar juntos? Vou ter que fazer sempre comida fácil de partir com o garfo.

E se ele entra no quarto quando eu me estiver a vestir? Vai perceber tudo! - oh inocência perdida!

E os pais dele? Será que me vão aceitar?

É melhor dizer que não quero casar, e se casar tem que ser no inverno porque senão vou estragar a maquilhagem toda com a transpiração.

E os meus filhos? Será que vão ter o mesmo problema que eu? Eu não quero que passem pelas mesmas coisas que eu!

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E quando és uma adolescente com um braço mais pequeno que o outro...

Vais conhecer pessoas que não te vão querer deliberadamente dar a mão.

Vais conhecer pessoas que te vão dizer que nunca vão querer filhos teus "porque ainda saem iguais".

Vais conhecer pessoas que te escondem dos amigos.

Vais conhecer pessoas que te fazem desistir de acreditar no amor.


E depois também vais conhecer a pessoa que nunca te vai tratar de maneira diferente.

Que segura qualquer uma das tuas mãos, a "boa" e a "má".

Que te vai fazer rir da tua própria diferença. Que se ri contigo, não de ti.

Que te vai apresentar a outras pessoas, sem se lembrar que elas te vêm com olhos de "coitadinha". E depois vão rir juntos da estupidez dos outros (ler episódios aqui).

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Quando és uma pessoa deficiente, vais ter que aceitar que uma ida à praia pode ser uma descida na montanha-russa da auto-estima. Vai haver muita gente a olhar-te de cima a baixo, a cochichar e a apontar, quando tudo o que querias era parecer a miúda mais gira da praia naquele instante.

Uma ida ao restaurante pode resultar num interesse extremo dos vizinhos do lado em perceber como raio é que o cúbito desapareceu. E um jantar torna-se numa longa dança para esconder o braço o mais possível, porque tens 18 anos e não sabes lidar com a situação.

Quando os holofotes estão todos virados para ti, tens que saber reflectir essa luz e transformá-la em algo útil. Sê uma bola de espelhos!

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