segunda-feira, 16 de setembro de 2002

I'm a legal alien 👽

Quando era mais pequena uma parte de mim acreditava que eu tinha família extraterrestre, o que explicava a minha ausência de cotovelo e a minha mão com apenas três dedos. Num passeio ao planeta Terra esqueceram-se de mim e agora não têm gasolina para voltar. Só pode.

Nas séries e filmes fala-se muito de pessoas em cadeiras de rodas, trissomia 21, autismo, diabetes, surdez, e cegueira. Nunca se fala sobre deficiências dos membros superiores. Somos uma minoria dentro de uma minoria. Deixem-me lá passar à frente na caixa do supermercado se fazem favor.

É terrível crescer sem referências de pessoas iguais a nós. Em vinte e cinco anos de vida, só vi de relance um menino com um braço minimamente parecido ao meu. Tudo o resto, todos os outros aliens que como eu emigraram do planeta Marte com os seus braços de três dedos, andavam dispersados pela galáxia à procura uns dos outros. Todos os outros meninos com braços iguais ao meu, vi na internet: em facebooks, grupos de apoio, páginas de internet.

Quando tens dez anos queres ser igual às princesas dos filmes que vês. Já não é tortura suficiente seres morena com olhos castanhos (quando qualquer princesa que se preze é loira de olhos azuis), gorda (quando elas têm cinturinhas de vespa), ainda se vai a ver e têm todas umas mãozinhas delicadas com cinco dedos cada uma.

Já tu... És fruto de um one night stand com o Master Yoda.


Quando és uma miúda de dez anos queres ser a princesa Leia, não o Yoda.

Quando tens dez anos e não conheces ninguém como tu, sentes-te perdida, sentes-te injustiçada, pensas várias vezes "porquê eu?".

Quando estás na casa dos vinte, começas a preocupar-te: como é que vai ser quando eu tiver filhos?

Como é que lhes vou explicar?

Como é que eles vão lidar com isto na escola?

Será que os vão chatear?

Enquanto os filhos estão fora dos planos, estou convencida de que a melhor hipótese será mesmo explicar que o avô foi um sábio mestre jedi que até tinha um amigo que perdeu uma mão.

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